Jornal Cândido destaca ações digitais da Prosa Nova

REPORTAGEM | Tempo de reação

31/05/2021 – 16:00

Autores, editores e curadores de Curitiba contam como reorganizaram suas atividades durante a pandemia

Hiago Rizzi
Luiz Felipe Cunha

Que a pandemia do coronavírus alterou o modo de vida de milhões de pessoas pelo mundo, todos já sabem. Os comércios fecharam as portas e aprendemos a falar home office; as aulas à distância se tornaram usuais como as máscaras pff2/n°95 no vestuário; o aperto de mãos deu lugar ao cumprimento com os cotovelos. O mundo dos livros não fugiu à regra. No Paraná, os circuitos literários, sempre em constante movimento, tiveram de se adaptar às exigências do isolamento — livrarias, oficinas, eventos, editoras e autores conhecidos pelos leitores logo se tornaram pixels em debates, lançamentos e vendas virtuais. E assim se passaram 15 meses.

Antes mesmo da pandemia, Ricardo Corona, editor na Medusa, já mantinha a maior parte das reuniões com autores e autoras via chamadas de vídeo. Agora é uma obrigação. O tráfego no site da editora aumentou, o que alterou a forma de distribuição para os leitores. “Tivemos que nos organizar de maneira mais prudente para as idas ao correio. Antes, a cada livro vendido, nosso funcionário ia imediatamente despachá-lo. Agora realizamos o envio a cada 15 dias — é mais seguro e os leitores têm compreendido”, diz Corona.

Em março do ano passado a Medusa uniu o estúdio editorial ao espaço que antes era apenas o endereço para o acervo, no Recreio da Serra, em Piraquara. Os lançamentos são feitos por meio de lives. Além das transmissões ao vivo, cada negócio busca uma forma de sobrevivência no novo cenário. A Kotter criou um clube do livro próprio, com três modalidades diferentes, para que os assinantes recebam em casa um novo título a cada mês. A Arte & Letra aposta na interação pelo Instagram para manter a clientela da editora, livraria e café — “O que tentamos fazer foi mostrar um pouco mais do nosso trabalho, com fotos e vídeos. O resultado foi muito positivo”, conta o editor e livreiro Thiago Tizzot.

Do outro lado da equação, os escritores também enfrentam a mudança necessária. Quando recebeu a primeira remessa do livro Preto de Alma Preta (contos, Medusa) em casa, no dia 31 de janeiro de 2021, o escritor Richard Roch anunciou a publicação com um vídeo no Instagram. Menos de dois meses depois, compartilhou com os seguidores o financiamento coletivo para a publicação de um novo livro. Dobrou a meta de arrecadação, com quase 50 colaboradores. “Antes da pandemia estive no primeiro lançamento em que eu conhecia o escritor e achei a dinâmica curiosa, pessoas ouvindo o que outras pessoas tinham a falar. Pensava que se viesse a acontecer comigo ia ser um momento muito especial”, destaca o curitibano. Mas ainda não foi dessa vez. Os dois primeiros livros de Richard circulam antes pelas redes.

O livro de poesia Maratonistas do Quênia (Urutau), no prelo, foi finalizado e inscrito no edital para publicação em isolamento. “Fiquei dois ou três meses em casa, em lockdown mais severo. Na minha cabeça, eu levei uma vida de escritor”, afirma Richard. Se o contato direto com os leitores se esvaiu, ele reconhece vantagens no jogo de telas. “A gente vai remodelando essas experiências, agora a minha forma de lidar com o público é voltar ao YouTube depois da live e ver o chat. O tempo real ficou disforme, a gente está aprendendo a encontrar trocas, diálogos”, analisa.

Lógica invertida

Os frequentadores de oficinas literárias, em geral, já sabem como funciona a dinâmica: o professor prepara um material didático, apresenta aos alunos — dispostos em roda ou não —, depois é a hora de produzir e, logo em seguida, todos discutem os textos. É um processo que satisfaz os amantes da escrita e da literatura, e que obviamente foi repensado para o “novo normal”. O escritor e empresário Luiz Andrioli havia planejado quatro oficinas pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC) para o ano de 2020. Com a pandemia, todas as aulas foram reestruturadas, e a lógica de confraternização, invertida. “Você perde a ida ao bar, perde a oportunidade de dividir uma carona, por exemplo, perde essas situações que fortalecem laços de amizades”, reflete.

O formato híbrido é uma promessa em meio ao isolamento e à vacinação descompassada. Acostumada a receber escritores de todo o país durante sete anos, a Esc. Escola de Escrita fechou as portas da sua sede em setembro, depois de meses custeando o aluguel do espaço sem aulas presenciais. “Em princípio, toda a estrutura online se mantém e esperaremos até 2022 para saber se cabe, dentro das expectativas, uma sede presencial fixa ou se nos adaptaremos a um formato híbrido em espaços parceiros”, conta Julie Fank, fundadora do espaço. Móveis foram doados e os livros encaixotados ou incorporados à biblioteca particular de Julie.

No início de 2021, a escola de escrita firmou uma parceria — esta que é mais uma das estratégias “pandêmicas”. Semanalmente, textos da Esc. são publicados no jornal Plural, no ar há dois anos e meio. Nos preparativos para o lançamento do jornal, a editoria de cultura se tornou primordial: dois dos sócios são tradutores, o terceiro é o cartunista Benett. “Percebemos interesse do público e uma área a ser explorada. Temos jornais literários na cidade, mas o trabalho do Plural é para o público geral, na formação de leitores”, declara o editor Rogerio Galindo. Em maio estreou o podcast Plural Para Ouvir, que toda semana discute dois livros de editoras menores — tendência que a edição de janeiro do Cândido mostrou.

Conversa informal

Os escritores Guido Viaro e Márcio Renato dos Santos, desde 2019, planejavam o formato que conversas informais entre autores deveriam tomar. O isolamento impulsionou o projeto. O Às Vezes, aos Domingos, como o nome diz, acontece em ao menos um domingo por mês, no Instagram dos convidados. “O mais importante é promover a literatura paranaense, pujante e plural. Anormal seria silenciar sobre os autores daqui, com a oportunidade e poder de divulgação, focar em outros conteúdos alegando ser cosmopolita — como se aqui no Paraná não fôssemos cosmopolitas”, afirma Márcio.

Desde julho do ano passado, mais de 20 autores de todo o estado já falaram sobre criação literária — da patobranquense Daiana Pasquim, passando pelo maringaense Oscar Nakasato, passando por Andréia Carvalho Gavita, de Ponta Grossa, até Otto Leopoldo Winck, que vive em Curitiba. “Imagine, então, o que poderíamos fazer com recursos”, diz o organizador. Os encontros têm o apoio da Tulipas Negras, selo do próprio Márcio, da agência Soma de Ideias, que colabora com a comunicação visual, e da Coalhada Artesanal Preciosa.

“Estamos juntos, vamos ler”

Projetos já fortalecidos, como a Feira Feira do Livro da Universidade Federal do Paraná, foram remanejados para o ambiente virtual. “Folhear os livros em meio ao clima de um evento que reúne centenas de pessoas é diferente de observar uma vitrine virtual de descontos, colocá-los no carrinho e deixar para efetivar a compra depois, o que às vezes não acontece”, assinala a organizadora de eventos da Editora UFPR, Maria Cristina Périgo. Em sua 11ª edição, participaram 35 editoras com descontos a partir de 40% — as vendas tiveram queda de 30%, mas os leitores investiram em livros mais caros. Além do formato, a crise é apontada como justificativa para a variação nos números.

A Mostra Literatura Paraná foi um sucesso em sua última edição presencial, em 2019. Quatro pontos da periferia de Curitiba receberam os eventos que incluíam rodas de leitura, contação de histórias, bate-papos com escritores e oficinas de literatura e grafite. A edição de 2020 foi sendo adiada com a expectativa de uma melhora nas condições de pandemia. A simples transposição para o virtual não atenderia o público — muitos sem acesso à internet ou ao equipamento necessário. Uma das ideias, de transmitir a programação em telões instalados pelas comunidades, esbarrou na segurança das famílias, prioridade para a organização.

“O brilho foi trazer o protagonismo da periferia para a programação, com a gravação de artistas, MCs, poetas e músicos que trabalham com a palavra. Reunimos mais de 60 artistas de Curitiba, Araucária, Colombo, Fazenda Rio Grande e São José dos Pinhais”, conta Kenni Rogers, idealizador da Mostra. Foram lançados mais de 30 vídeos, cinco lives com escritores, uma oficina de formação de leitores e uma intervenção literária com grafite na Vila Torres. Os catadores de material reciclável foram homenageados na identidade visual do evento e todos os vídeos começam com um “salve” aos leitores e leitoras. “Foi uma maneira afetuosa de dizer ‘Estamos juntos, vamos ler. Acreditamos nessa força.’”

GUIA | Ações online

31/05/2021 – 15:50

Um mapeamento de projetos literários locais que migraram para a internet no período de isolamento. Leia também a reportagem.

Biblioteca Pública do Paraná

Fechada para visitação desde março do ano passado, a BPP “digitalizou” todos os seus principais projetos. Do Cândido às sessões de contação de histórias para crianças, passando por seu concurso literário anual (rebatizado de Prêmio Biblioteca Digital) e a Flibi (Festa Literária da Biblioteca Pública do Paraná). A instituição também reforçou sua participação nas redes sociais, abrindo espaço para autores, editores, jornalistas e personalidades do mundo cultural falarem de seus novos trabalhos ou indicarem leituras. No último mês de março, quando completou 164 anos de fundação, a Biblioteca disponibilizou para download gratuito todos os livros já lançados por seu braço editorial, o selo Biblioteca Paraná. São mais de 40 títulos, que podem ser baixados em www.bpp.pr.gov.br.

Às Vezes, aos Domingos

As conversas entre autores foram planejadas por Marcio Renato dos Santos e Guido Viaro em 2019, mas tiveram início em 2020, já no formato online. Os encontros são transmitidos no Instagram dos convidados, sem uma periodicidade rígida. Para saber mais, acesse www.tulipasnegraseditora.blogspot.com.

Arte & Letra

Além de editora, a Arte & Letra é também livraria e café. No Instagram @arteeletra é possível acompanhar mais do trabalho da equipe. As vendas são pelo site  www.arteeletra.com.br.

Coletivo Era Uma Vez

Era Uma Vez é um grupo colaborativo de escritores e ilustradores de literatura infantojuvenil que atua na formação de leitores. Em seu canal do YouTube, o coletivo publica a série “Coletivo Conta Coletivo”, em que os autores leem trechos das obras de seus colegas. No Instagram e Facebook são realizados sorteios de livros que também estão à venda em www.coletivoeraumavez.com.br.

Editora UFPR

Em 2020, a UFPR realizou seu tradicional Feirão em formato online, com a participação de 35 editoras. Livros impressos anteriormente foram digitalizados e estão disponíveis gratuitamente no site www.editora.ufpr.br, assim como novos títulos à venda em ambos os formatos. A Editora está ainda no Facebook, Instagram e YouTube, onde é possível conferir lives e lançamentos.

Esc. Escola de Escrita

Sem contar com uma sede, a escola de escrita criativa investiu no site (www.escoladeescrita.com.br) e no contato multiplataforma com os alunos. A Esc. está no Instagram, Facebook e YouTube e tem uma newslettermailchi.mp/c7a5f9ebcbde/vem-pra-esc. Entre as novidades por vir, estão um podcast e material no YouTube para quem ainda não pode frequentar uma oficina.

Fundação Cultural de Curitiba

A Coordenação de Literatura da FCC, responsável pelas 17 Casas de Leitura da cidade, investiu em rodas de leitura, contação de histórias, oficinas de escrita e contato com as escolas, após um período de adaptação ao virtual. As ações acontecem no YouTube, Facebook e Instagram. As novidades são o podcast Curitiba Lê, em várias plataformas, e a Biblioteca Digital no Curitiba APP, com livros de autores paranaenses para download gratuito.

 

Kotter

A editora inaugurou a Kotter TV, canal no YouTube para lives, lançamentos, entrevistas, debates e séries temáticas. Criou também um clube do livro por assinatura, com três opções, que envia títulos diferentes aos apoiadores a cada mês. Está no Facebook, Instagram e no site www.kotter.com.br.

Leia Mulheres

O clube de leituras que discute autoras em todo o país retomou os encontros em Curitiba, de forma virtual, em agosto de 2020. Para acompanhar, participar e se inscrever basta acessar o Instagram @leiamulherescwb e a newsletter tinyletter.com/leiamulherescwb.

Medusa

A editora e produtora uniu o estúdio editorial ao acervo no Recreio da Serra, em Piraquara. Os livros são vendidos pelo site www.editoramedusa.com.br, enquanto os lançamentos e oficinas acontecem no canal do YouTube. A Medusa também está no Instagram e Facebook.

Membrana

Há cinco anos o grupo colaborativo e crítico de autores soma publicações e participações na literatura e artes visuais. Os encontros quinzenais passaram ao virtual, e no Instagram @membranaliteraria é possível acompanhar ações como o “Membrana lê Membrana”, de leituras entre autores.

Mulherio das Letras

O movimento literário feminista é articulado em nível nacional e por diversos grupos regionais no Facebook, YouTube e Instagram. Entre os projetos em andamento estão leituras de texto, clubes de leitura e a continuidade na produção de coletâneas com temáticas varaidas.

Plural

O jornal curitibano concluiu recentemente a publicação do romance Lia, de Caetano Galindo, em cem publicações que começaram em 2019. Além das colunas sobre literatura, disponíveis no site www.plural.jor.br, em junho foi lançado o podcast Plural para Ouvir, que discute dois livros por episódio, semanalmente.

Prosa Nova

A empresa Prosa Nova atua na pesquisa, captação de recursos e desenvolvimento de projetos na área da cultura — como na produção de livros, oficinas e palestras. Criou, no Instagram, a “Quarentena Literária”, onde escritores indicam outros escritores. Os vídeos e demais informações estão também em www.prosanova.com.br.

Rascunho

O jornal literário que circula desde 2000 passou a contar com conteúdo digital exclusivo no no ano passado: são três opções de assinatura no site www.rascunho.com.br. Em junho, tem início a 10ª temporada da série de de encontros Paiol Literário, agora com transmissão no YouTube. As edições anteriores estão disponibilizadas em um podcast realizado em parceria com o Itaú Cultural.

RelevO

A distribuição do jornal literário em livrarias e pontos culturais está suspensa até a vacinação, mas ainda é possível acessar e assinar para receber em casa no site www.jornalrelevo.com. Com mais de dez anos de circulação, a publicação está também no Facebook, Twitter e Instagram @jornalrelevo.

Sesc Paraná

Os projetos de Literatura do Sesc Paraná incluem bibliotecas, clubes de leitura e laboratórios de escrita (abertos ao público de acordo com as restrições sanitárias determinadas pelos governos municipal e estadual), mas eventos como a Semana Literária migraram para o formato online. O Festival Arte em Rede, no ar atualmente, promove artistas paranaenses em diversos segmentos. Informações pelo site www.sescpr.com.br, Facebook e Instagram.

 

Vespeiro: Vozes Literárias

Desde 2017, o sarau-coletivo promove eventos sobre literatura e outras artes. As transmissões ao vivo são pelo instagram @vespeiro.vozes.literárias, com temática livre ou em homenagem a autores como Wilson Bueno e Dalton Trevisan.

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