Por que eu não li antes: Água Funda

18 de março de 2022

Por que eu não li antes: Água Funda

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Episódio #18

Por que eu não li antes é um projeto literário digital que apresenta obras de autoras brasileiras negras para o público, acompanhadas de uma discussão com especialistas no assunto sobre os motivos que fazem com que tais livros não estejam mais presentes na vida dos leitores. Reuniremos autoras, especialistas e debatedores em uma série de cinco podcasts, os quais serão reunidos em um site com informações adicionais sobre as obras apresentadas, estudos complementares e outros títulos relevantes sobre o tema. 

A obra: Água Funda

É um romance narrado por um narrador onisciente. A história se passa na Fazenda Olhos D’Água, no sul de Minas Gerais, entre o fim do período escravocrata e as primeiras décadas do século XX. A autora faz uma reconstituição etnográfica da linguagem caipira, que conheceu pessoalmente em sua infância passada no Vale do Paraíba e sul de Minas.
A autora construiu uma prosa ágil e fluida, cheia de ditos populares e acontecimentos marcados por superstições, casamentos bons e ruins, pela vida na cidade pequena e pela desgraça. Entre Sinhá Carolina, dona da Fazenda Nossa Senhora dos Olhos D’Água, e o casal Joca e Curiango, trabalhadores locais, num arco temporal que vai da época da escravidão até os anos 1930, o elo está na loucura que os acomete.

Contexto da época de publicação

Um ano antes do lançamento da obra, em 1945, o Brasil estava saindo da ditadura de Vargas e entrando no primeiro período democrático do país. Em 1946, o General Eurico Gaspar Dutra tomou posse como o 16º presidente do Brasil, sendo o primeiro presidente eleito pelo voto direto após o Estado Novo. Também foi o ano da promulgação da 5ª Constituição do Brasil, que garantiu princípios democráticos, mas ainda manteve alguns aspectos conservadores, como a proibição do voto dos analfabetos.

Importância da obra

A publicação desta obra rompeu barreiras para as gerações de outros escritores negros, pois a autora foi a primeira escritora negra a ganhar notoriedade nacional; com isso, trouxe representatividade e incentivo. Além disso, em Água Funda, há a retratação do caipira propriamente dito, caracterizando a obra como uma das mais autênticas sobre o povo caipira e sua linguagem.
Assim como Maria Firmina dos Reis, Ruth Guimarães não veio da capital do estado ou do país, era negra e mulher, fazendo com que a importância da obra expanda-se ao movimento negro, feminista e à população do interior. Além disso, o livro é considerado um clássico do século XX. 

A autora

Ruth Guimarães Botelho nasceu na cidade de Cachoeira Paulista, no estado de São Paulo, dia 13 de junho de 1920. Foi escritora, jornalista, teatróloga, tradutora e pesquisadora da literatura oral no Brasil. Além disso, foi professora de Língua Portuguesa por mais de 30 anos em escolas públicas de São Paulo.
Viveu sua infância em Minas Gerais, na fazenda de seus pais. Foi lá que conviveu com o povo caipira que inspirou suas obras literárias. Teve influência literária desde criança, seus pais tinham uma pequena biblioteca em casa, com cerca de 100 livros. Com 10 anos, já publicava poemas nos jornais locais A Região e A Notícia. Aos 18 anos, mudou-se para São Paulo-SP para estudar Filosofia na USP.Foi pupila de Mário de Andrade, o qual iniciou Ruth em estudos de folclore e literatura popular. Trabalhou para diversas editoras como revisora e tradutora. Escreveu crônicas, artigos e crítica literária para vários jornais e revistas de São Paulo, Rio de Janeiro e Lisboa. Além de escritora, também foi repórter de revistas como “Noite Ilustrada”, “Carioca”, “Globo” e “Revista Lusitana” (Portugal).
Ao longo de sua carreira, a autora publicou mais de 50 obras e foi a primeira escritora negra a projetar-se nacionalmente. Lançou o seu primeiro romance em 1946,  chamado Água Funda, o qual retrata o universo rural e caipira do Vale do Paraíba paulista e mineiro, nas vertentes da serra da Mantiqueira. A escritora faleceu em 21 de maio de 2014, em Cachoeira Paulista, com 94 anos.

Apresentação: Luiz Andrioli e Walkyria Novais. 

Participações de:

  • Fernanda Miranda é professora, pesquisadora e escritora, publicou pela Editora Malê, em 2019, o livro Silêncios prescritos: estudo de romances de autoras negras (1859-2006), em que aborda a obra de Maria Firmina dos Reis, Ruth Guimarães, Carolina Maria de Jesus, Anajá Caetano, Aline França, Marilene Felinto, Conceição Evaristo e Ana Maria Gonçalves. Fernanda venceu o prêmio Capes Teses 2020.

@_fernandamira

  • Junia Botelho

Formada pela USP em Letras (francês, português e italiano). Especializada em tradução e mestrado na Sorbonne/Paris, com ênfase no estudo da semiótica, linguística e semântica das línguas portuguesa e francesa. Tradutora juramentada do idioma francês, nomeada em 2000. Professora de francês e de português para brasileiros e estrangeiros.

Secretária de Cultura por dois anos em Cachoeira Paulista

Atualmente, é membro da comissão de cultura de Cachoeira Paulista e  diretora executiva do Instituto Ruth Guimarães.

Filha do fotógrafo Botelho Netto e da professora, escritora, tradutora e folclorista Ruth Guimarães, aproveita as histórias de Ruth e as fotos de Botelho para divulgar a cultura popular em concursos infantojuvenis, despertando nas crianças e jovens o gosto pela literatura. E faz do espaço que eles criaram no instituto –  o Terreiro das Artes,  em Cachoeira Paulista – um ponto de  encontro de artistas.

@instituto_ruth_guimaraes 

@juniagb

Matérias sobre Ruth Guimarães

Vídeos
Todo Seu – Grandes Mulheres: Ruth Guimarães (08/11/11)
Aula sobre cultura e folclore com Ruth Guimarães –  Entrevista Inédita, de 2005. Feita pelo jornalista Adriano Nogueira para seu Trabalho de Conclusão de Curso.
Live dos 100 anos da escritora Ruth Guimarães, transmitida em 2020 no Canal Paulo Rezzutti, com participação de Júnia e Joaquim Botelho.

Fontes
Ruth Guimarães – Literatura Afro-Brasileirahttp://institutoruthguimaraes.org.br/
Ruth Guimarães, a primeira escritora negra a se projetar nacionalmente

Incentivo:

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