Por que eu não li antes: Quarto de despejo

18 de março de 2022

Por que eu não li antes: Quarto de despejo

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Episódio #19

Por que eu não li antes é um projeto literário digital que apresenta obras de autoras brasileiras negras para o público, acompanhadas de uma discussão com especialistas no assunto sobre os motivos que fazem com que tais livros não estejam mais presentes na vida dos leitores. Reuniremos autoras, especialistas e debatedores em uma série de cinco podcasts, os quais serão reunidos em um site com informações adicionais sobre as obras apresentadas, estudos complementares e outros títulos relevantes sobre o tema. 

A obra: Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada

Publicado em 1960, foi seu primeiro livro. Vendeu dez mil cópias em quatro dias e 100 mil cópias em um ano. No livro, Carolina registra o cotidiano de pobreza que rege seus dias, bem como a humilhação social e moral a que estão sujeitos os habitantes da favela do Canindé.
A autora sempre pontua a fome em seu livro. Ao sobreviver catando recicláveis, Carolina diz que em dias de chuva era impossível trabalhar e ela e seus filhos comiam o que tinha em casa. Várias vezes, conta com a ajuda de vizinhos, doações e restos de alimentos nas feiras e até mesmo no lixo. Um trecho muito famoso de Quarto de Despejo mostra-nos como a fome é diferente da embriaguez (pois Carolina diz que muitos de seus vizinhos embebedam-se para esquecerem sua condição social, sua miséria e sua fome): “A tontura do álcool nos impede de cantar. Mas a fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago”.
Carolina mostra ao leitor a situação em que se encontra como moradora de uma favela. A autora diz que ela e seus filhos são pessoas invisíveis, ignoradas pelos que têm melhores condições. Além disso, também pontua sobre os problemas com vizinhos, mulheres que batiam em seus filhos e que sofriam violência doméstica por parte dos maridos alcoolistas.

Contexto da época de publicação

O livro é pertinente ao contexto do final da década de 1950 e início de 1960. Nesse período, o país estava modernizando-se economicamente e, ao mesmo tempo, deixando mais evidente a desigualdade social. Ecos desse quadro histórico são identificáveis na trajetória da escritora.

Importância da obra

O livro chama a atenção para a questão da favela e seus moradores, até então um problema desde os primórdios da sociedade brasileira. Foi uma oportunidade de debater tópicos essenciais, como o saneamento básico, a coleta de lixo, a água encanada, a fome, a miséria, a vida em um espaço onde até então o poder público não dava as caras.

A autora

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, Minas Gerais, em 14 de março de 1914. Foi uma escritora, compositora e poetisa brasileira. Frequentou a escola até o segundo ano do Ensino Fundamental, época em que aprendeu a ler e escrever.

Em 1924, mudou-se com a sua família para uma fazenda em Lajeado, Minas Gerais, onde trabalhavam como lavradores. Após três anos, retornou a Minas Gerais e, devido às dificuldades econômicas, foi para São Paulo à procura de melhores condições. Trabalhou como ajudante na Santa Casa de Franca, auxiliar de cozinha e doméstica. De 1948 a 1961, morou na favela Canindé e trabalhou como catadora de recicláveis para sustentar-se e sustentar seus três filhos, que criava sozinha. Carolina escrevia sobre seu dia a dia na favela do Canindé, Zona Norte de São Paulo.
Em 1958, após conhecer o jornalista que se interessou e publicou os seus diários com o nome de Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, em 1960, Carolina consegue comprar uma casa no bairro de Santana, em São Paulo, e continua a escrever seus diários, que posteriormente serão editados em Casa de Alvenaria: Diário de uma ex-favelada, em 1961. Em 1963, publicou Pedaços da Fome, seu único romance, que teve pouca repercussão. Em função dos contínuos desentendimentos com seus editores, bem como das dificuldades enfrentadas para manter-se em evidência e adaptar-se à vida no bairro de classe média, mudou-se para um sítio no bairro de Parelheiros, São Paulo, em 1969, onde é praticamente esquecida pelo mercado editorial, apesar de algumas tentativas de voltar à cena literária.

Faleceu em 13 de fevereiro de 1977, com 62 anos, vítima de uma crise de insuficiência respiratória, devido à asma. Sua vida e obra permanecem objetos de diversos estudos, tanto no Brasil quanto no exterior.

Outras seis obras póstumas foram publicadas após sua morte, compiladas a partir dos cadernos e materiais deixados pela autora. Em 2017, sua história foi registrada por Tom Farias em Carolina – Uma Biografia, publicada pela editora Malê.

Apresentação: Luiz Andrioli e Walkyria Novais. 

Participações de:

  • Tallyssa Sirino é doutora em Letras pela Unioeste, área de concentração Linguagem Literária e Interfaces Sociais. Atua como professora na PUCPR, onde também é pesquisadora da área de Literatura pós-colonial (Literatura Feminina, Negra, Marginal e suas ramificações) e Ensino de Língua Inglesa anti-hegemônico.
    Facebook: Tallyssa Sirino.
  • Maria Isabel Bordini é professora de Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina. Realiza pesquisa sobre Literatura Brasileira e Literatura Portuguesa, incluindo a produção de escritoras mulheres. Vai lançar em breve seu primeiro romance, de título Hundo (palavra que significa “cachorro”, em esperanto), pela editora Kotter.
    @belbordini

    Fontes consultadas para a elaboração deste podcast

Vídeos


Artigos
Carolina Maria de Jesus e a literatura marginal: uma questão de gênero | Silva | Século XXI: Revista de Ciências Sociais;
Os escritos de Carolina Maria de Jesus: determinações e imaginário;
Impactos sociais da escrita de Carolina Maria de Jesus na escola | Müller | Palimpsesto – Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ;Carolina Maria de Jesus: a escrita de si;
CAROLINA MARIA DE JESUS: REPRESENTAÇÃO E RESISTÊNCIA | Ribeiro Fortuna;
https://portaldeperiodicos.unisul.br/index.php/Critica_Cultural/article/view/8808/pdf 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ JESSICA BRISOLA STORI “QUANDO INFILTREI NA LITERATURA EU NÃO PREVIA O PRANTO”: A MEMÓRIA

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